Recentemente, o BuzzFeed publicou um artigo intitulado Os filmes do Oscar 2017 passam no “teste do sexismo”?. O teste em questão chama-se Bechdel, e tem como objetivo denunciar a subvalorização da mulher nas narrativas cinematográficas. Os critérios do teste são: no mínimo, duas personagens femininas com nomes devem conversar uma com a outra durante o filme - e essa conversa não pode ser sobre homens.
Apesar de regras pouco restritivas, os resultados assustam: dos nove indicados na categoria de Melhor Filme, apenas dois passam no teste - Arrival (A Chegada) e Hidden Figures (Estrelas Além do Tempo). Clássicos como Forrest Gump, Star Wars IV, Taxi Driver, Um Corpo Que Cai e De Volta Para o Futuro também não passaram no teste.
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Conhecer o cursoSexismo dentro e fora da tela. Assim como em grande parte das profissões, mulheres no cinema também recebem menos que homens. No início desse ano, Natalie Portman denunciou a disparidade salarial em seu trabalho: “Ashton Kutcher ganhou três vezes mais do que eu em ‘Sexo Sem Compromisso’”. E este não foi um caso isolado. Ao comparar a soma salarial dos 10 atores mais bem pagos de 2013 e das 10 atrizes mais bem pagas de 2013, chegamos em 465 milhões de dólares contra 181 milhões de dólares.
Ciente do sexismo no cinema, a New York Film Academy analisou os 500 maiores filmes lançados entre 2007 e 2012. Confira o resultado:
- A proporção de personagens mulheres são de 1 para cada 2,25 homens;
- 28,8% das mulheres aparecem em cena com roupa “provocativa” - contra 7% dos homens;
- 26,2% dos personagens femininos fazem nudez parcial - contra 9,4% dos personagens masculinos;
- Apenas 9% dos 500 filmes analisados foram dirigidos por mulheres - e uma delas venceu o Oscar de Melhor Direção em 2010, se tornando a única vencedora do prêmio nessa categoria;
- Comparando a lista de atores e atrizes mais bem pagos de hollywood, a média de idade das mulheres é de 34,8 anos, contra 46,5 dos homens.
Mas o que falta? Interesse do público em ver mulheres poderosas em cena? Mad Max e Star Wars estão aqui para provar o contrário. As duas franquias bem sucedidas deram vez às mulheres: apesar do título Mad Max, é Furiosa que toma as rédeas de Estrada da Fúria; algo semelhante acontece com Rey em O Despertar da Força - que passa no teste Bechdel mencionado no início do texto. No Brasil não foi diferente. Filmes de grande destaque nos anos de 2015 e 2016 foram protagonizados por mulheres fortes: Que Horas Ela Volta? e Aquarius. O primeiro, inclusive, dirigido por uma mulher: Anna Muylaert.
Para contornar a falta de oportunidades às mulheres, o diretor norte-americano Ryan Murphy criou recentemente a Fundação Half, em parceria com a 20th Century Fox Television. Seu objetivo é ter 50% de seus colaboradores mulheres ou participantes de minorias (como membros da comunidade LGBT ou pessoas de raças diversas), atingindo diretamente os projetos do diretor, que reservou 50% da direção de Scream Queens, American Crime Story e American Horror Story para mulheres. O resultado parece satisfatório: American Crime Story levou o Globo de Ouro de Melhor Filme para TV ou Minissérie no início desse ano. Jessica Jones - uma série repleta de mulheres poderosas e independentes - também abraçou a causa e terá os 13 episódios de sua segunda temporada dirigidos por mulheres.
A industria cinematográfica está refletindo as mazelas de nossa sociedade. Em 2016, ao ser taxada de racista com a hashtag #OscarsSoWhite, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas teve a oportunidade de repensar seus critérios de indicação - o que influenciou diretamente o Oscar deste ano: a primeira edição em 89 anos com negros indicados em todas as categorias de atuação. Assim como o racismo no cinema está em pauta, o sexismo deve ganhar espaço no debate, e esse será apenas o começo de uma luta por representatividade e inclusão.