Fale com a gente no WhatsApp Fale com a gente no WhatsApp
Contagem Regressiva 2024

A ÚLTIMA OFERTA DO ANO

Áudio e Vídeo Cinema

Chiaroscuro: como a iluminação do Renascimento influenciou o cinema

Confira como uma técnica de iluminação desenvolvida pelos pintores renascentistas é utilizada até hoje no cinema.

há 3 anos 5 meses

O chiaroscuro (do italiano “claro-escuro”) é uma técnica de pintura instituída no período renascentista do século XV. Nele, diferente de outras técnicas, como o sfumato, notamos uma maior distância entre as diferentes intensidades de luz presentes em uma imagem. Dessa forma, podemos pensar essa estratégia do chiaroscuro como um alto contraste.

Veja as duas obras abaixo. À esquerda temos a Mona Lisa e à direita, David e Golias. Enquanto na Monalisa Leonardo da Vinci utilizou a técnica do sfumato, apresentando muitas variações tonais entre a passagem da luz para a sombra, Caravaggio, ao representar a passagem bíblica, optou por evidenciar também a partir da variação tonal (agora em menor grau) os limites entre a luz incidente (key light) e as áreas escuras. Na comparação, fica evidente que a pintura de Caravaggio apresenta um maior contraste de luz - característica marcante do chiaroscuro.

O contraste é, inclusive, um elemento da Variação - um dos princípios da organização visual:

Em oposição à harmonia, está a variação. É ela a responsável pelo contraste visual na composição - destacando elementos e imagens -, fazendo com que não tenhamos uma harmonia em excesso e evitando uma obra estática, sem emoção e vida pelo excesso de repetições. O principal elemento da variação é, então, o contraste. É ele que, em uma mesma área, combina elementos com características opostas. Ele é capaz, também, de realçar determinadas áreas da imagem, tornando-a dominante na composição.

E essa técnica de evidenciar o contraste pela variação de luz entre as áreas claras e escuras da tela foi desenvolvida no Renascimento, período artístico que sucedeu a Idade Média, quando alguns artistas passaram a utilizar a luz e a sombra em suas pinturas a fim de almejar um maior naturalismo e propor uma perspectiva no ambiente retratado.

Giotto, por exemplo, já alcançava certo grau de tridimensionalidade em suas obras, mas ainda em uma operação quase instintiva. Foi Leonardo da Vinci que, então, racionalizou essa utilização criativa da luz e da sombra, tanto na teoria quanto na prática, mas talvez tenha sido Caravaggio o artista que melhor difundiu a técnica do chiaroscuro, propondo sua reinterpretação no período Barroco.

E como aponta Jean-Claude Carrière, “o cinema fez uso pródigo de tudo o que veio antes dele. Quando ganhou a fala em 1930, requisitou o serviço dos escritores; com o sucesso da cor, arregimentou pintores; recorreu a músicos e arquitetos. Cada um contribuiu com sua visão, com sua forma de expressão”. Por isso, não é uma grande novidade que o cinema tenha também sido influenciado por técnicas pictóricas exploradas séculos antes da sétima arte sequer ser imaginável.

O Cinema Noir, por exemplo, já enuncia em seu próprio nome sua proposta estética: noir significa “preto” em francês. Então, além da imagem escura, encontramos em sua temática um tom sombrio e uma perspectiva pessimista em sua abordagem. Sua iluminação era bem característica em três pontos: “havia uma fonte de luz para estabelecer o escuro (sombras), outra para o claro (contraste com o negro) e outra para criar um gradiente de cinza, regulada para criar a ‘atmosfera’ da cena. Com frequência, os personagens eram banhados por longas sombras lineares, projetadas de barras da prisão, escadas ou venezianas nas janelas”.

Por outro lado, no Expressionismo Alemão, os cineastas buscavam tanto esse efeito de chiaroscuro na composição da imagem que frequentemente eles pintavam nos próprios cenários os feixes de luz e sombra e também utilizavam esse recurso na maquiagem dos personagens, que quase deformava seus rostos. Confira alguns exemplos nesse episódio da nossa série de movimentos cinematográficos:

E essa técnica não influenciou apenas movimentos estrangeiros. O Cinema Novo brasileiro também aderiu em parte a essa estética, como Cabra Marcado Para Morrer (1984), que foi considerado o melhor documentário brasileiro pela ABRACCINE – Associação Brasileira de Críticos de Cinema.


Você já conhecia essa técnica renascentista de iluminação? Gosta de algum filme que se inspira nessa estética? Deixe sua sugestão e opinião aqui nos comentários, ou em nossas redes - Facebook e Instagram.

Referências:

Chiaroscuro e a cinematografia

O que é um filme noir?

Autor(a) do artigo

Rafael Alessandro
Rafael Alessandro

Professor, coordenador e produtor de conteúdo no AvMakers. Rafael Alessandro é formado em Comunicação, graduando em Cinema e Audiovisual e mestrando em Cinema e Artes do Vídeo pela Faculdade de Artes do Paraná.

Todos os artigos

Artigos relacionados Ver todos