Uma produção audiovisual precisa cumprir uma série de requisitos para ser considerada um conteúdo de qualidade, qualquer que seja o meio no qual será veiculada.
Isso porque o processo de produção envolve arte, técnica, domínio de teorias (como as da imagem e da estética) e prática necessária para operar com maestria câmeras, microfones e softwares de edição que possibilitam a construção da obra em sua totalidade (como Adobe Premiere ou DaVinci Resolve).
Neste post, vamos falar um pouco sobre uma das principais teorias do audiovisual: as regras de corte de Walter Murch. Ela é apresentada em seu livro clássico Num Piscar de Olhos, leitura obrigatória em qualquer curso audiovisual ou até mesmo para você que quer começar a sua carreira profissional na área.
Ficou interessado? Então siga com a leitura. :)
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Conhecer o cursoQuem é Walter Murch
Para começar, é preciso saber quem é Walter Murch e por que ele é um profissional tão respeitado na área.
O melhor atributo para apresentá-lo é dizer que ele consegue conciliar teoria e prática como poucos. Assim como elaborou uma teoria e escreveu um livro que é quase uma bíblia para quem trabalha com montagem de vídeos, ele também é um grande editor.
Murch já concorreu 7 vezes ao Oscar, sendo premiado com 3 estatuetas. Venceu o Oscar de melhor mixagem de som pelos filmes Apocalypse Now e O Paciente Inglês. Pela 2ª película, garantiu também o prêmio de melhor edição.
Além dos filmes premiados pela academia, Walter também tem no currículo grandes obras como a trilogia O Poderoso Chefão e Ghost — Do Outro Lado da Vida.
A obra Num Piscar de Olhos
A teoria elaborada pelo autor em “Num Piscar de Olhos” parte de uma pergunta elementar: “por que os cortes funcionam?”. E, para chegar à resposta, ele teoriza sobre a relação entre filmes e sonhos e também entre o estado de espírito das pessoas e os momentos em que elas piscam.
Enquanto escrevia o livro, Murch observava a edição do filme A Conversação. Portanto, grande parte das questões metodológicas abordadas na obra foram elaboradas com base no que ele via no processo de produção do longa.
Apesar de ser uma obra muito rica do começo ao fim, a principal contribuição do livro está nas 6 regras de corte de Walter Murch. Essas regras estabelecem como devem ser os cortes que para que um vídeo tenha uma boa montagem.
A seguir, falaremos mais sobre elas.
As 6 regras de corte de Walter Murch
Segundo Walter Murch, os cortes podem ser considerados a alma de uma boa edição, já que influenciam no ritmo da obra e na forma como o telespectador se sente ao assistí-la.
Conforme sua teoria, para que um corte possa ser considerado perfeito, ele precisa satisfazer 6 atributos, que vamos explorar na sequência.
Antes disso, é fundamental lembrar que as regras de corte de Walter Murch estão em ordem hierárquica de importância. Portanto, se precisar sacrificar alguma das delas, opte sempre pela que está mais abaixo na escala de importância.
1. Emoção
Para o autor, o critério da emoção é o mais importante na hora de decidir um corte. Segundo ele, todos os cortes devem levar o espectador junto com a linha de emoção da história.
Por exemplo: se o objetivo de uma cena é causar tristeza, pergunte-se como este corte afetará emocionalmente a audiência. Se for de outra forma que não causando tristeza, cancele ou modifique o corte.
Murch considera esse critério tão fundamental na montagem de um filme que atribui a importância de 51% para ele. Portanto, a regra da emoção, por si só, é mais importante do que todas as outras regras de corte de Walter Murch juntas.
Embora algumas outras escolas de audiovisual considerem critérios como continuidade mais importantes, para Murch, a emoção vale mais do que tudo. Nesse caso, lembre-se de levar como lição para quando estiver editando algum vídeo: jamais sacrifique a emoção!
2. História
Com a importância de 23%, a 2ª regra diz respeito à história. Segundo o autor, um corte só deve ser feito se ele valorizar a história que precisa ser contada.
O corte que você quer fazer ajuda o espectador a compreender o que está acontecendo no filme? Ele faz a história avançar para o ponto seguinte? Se a resposta for negativa, reconsidere.
Muitas vezes, alguns trechos absolutamente desnecessários para a história de alguma obra acabam erroneamente incluídos em sua edição final e prejudicam sua compreensão. Um corte resolveria tudo!
3. Ritmo
Nessa regra, o autor determina que o corte precisa ocorrer em um ritmo legal, que seja fluído com o do vídeo, para não chocar a audiência. Esse critério é subjetivo e depende muito do feeling do editor. É preciso sentir qual o ritmo da obra e fazer um corte que siga esse mesmo padrão.
Basicamente, ritmo se refere a tempo. É necessário decidir a velocidade dos cortes. A obra pede um corte mais rápido ou mais lento? Tenha essa percepção e aplique na hora da montagem do seu vídeo para que ele faça sentido.
Essa regra tem a importância de 10% e, ao lado das 2 primeiras regras de corte de Walter Murch, é essencial na construção do filme. As três regras se conectam perfeitamente bem e precisam estar em sintonia para que a obra faça sentido.
4. Linha do olhar
As 3 últimas regras têm uma importância muito menor para o autor. Para a linha do olhar, Murch atribui 7% de importância.
Segundo essa regra, o editor precisa cortar as cenas levando em consideração em qual lugar os olhos do espectador estarão no momento. Este cuidado dará uma continuidade visual para todo filme e garantirá que você não perca a atenção da sua audiência.
Além disso, vídeos em que essa regra não é respeitada tendem a cansar e confundir demais os espectadores, já que o olhar deles precisa mudar de lugar muito rapidamente.
5. Planaridade
Essa regra está diretamente ligada ao ângulo das tomadas e à linha do olhar. Nesse caso, é importante ter em mente que, para que uma cena faça sentido na cabeça do espectador, os cortes precisam obedecer aos movimentos que estão acontecendo.
Por exemplo: como podemos representar em uma cena que 2 pessoas estão conversando, frente a frente? Como você vai fazer os cortes respeitando essa quebra de linha? A importância deste critério é de 5%.
6. Tridimensionalidade
A regra da tridimensionalidade é muito semelhante à da planaridade, com a diferença que a anterior é em 2D, e essa, em 3D. É o que comumente se conhece por continuidade espacial.
Como vamos fazer pessoas e objetos se moverem em um espaço tridimensional? Como se deve fazer o corte para que, quando alguém vire uma esquina, o espectador tenha a sensação de continuidade? Todas estas questões dizem respeito à tridimensionalidade. Para Murch essa regra tem a importância de 4%.
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