Após a era de ouro do cinema hollywoodiano, entre os anos 20 e 60, a indústria cinematográfica norte-americana enfrentou uma dura crise de consumo. Em 1969 as companhias de Hollywood perdiam mais de 200 milhões de dólares por ano.
Como estratégia para reagir a essa crise, os produtores passaram a produzir filmes direcionados ao público jovem, seguindo tendências da contracultura. Os mais influentes foram Sem destino (1969), de Dennis Hopper, M.A.S.H. (1970), de Robert Altman, Bonnie e Clyde (1967), dirigido por Arthur Penn, e A Primeira Noite de Um Homem (1967), de Mike Nichols. Filmes como este proporcionaram uma nova abertura para outras produções que visavam audiências mais amplas. Os mais conhecidos são O Poderoso Chefão (1972), de Francis Ford Coppola, Tubarão (1975), de Steven Spielberg, O Exorcista (1973), de William Friedkin, Guerra nas Estrelas (1977), de George Lucas, e Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese.
Se grande parte dessas produções são consagradas até hoje como grandes filmes do cinema norte-americano, o mesmo podemos afirmar sobre seus diretores. Conhecidos como os “moleques do cinema” (movie brats), eles frequentaram em sua maioria escolas de cinema e aprenderam não apenas a mecânica da produção cinematográfica, mas também estudaram o cinema em sua estética e história.
Por esse conhecimento enciclopédico sobre os filmes e seus diretores, os moleques do cinema trabalhavam os gêneros cinematográficos tradicionais (você pode ler nosso artigo sobre gêneros cinematográficos e suas convenções), mas atribuíam uma marca autobiográfica em seus filmes apesar das limitações dessas convenções.
Por conta dessa veneração que os jovens diretores tinham com o cinema que cresceram assistindo, muitos desses filmes também eram baseados em produções da velha Hollywood. David Bordwell e Kristin Thompson apontam características semelhantes em De Palma e Hitchcock, em que Vestida Para Matar (1980) seria uma evidente recriação de Psicose (1960). Assim como Assalto à 13 DP (1976), de Carpenter, parece uma derivação de Onde Começa o Inferno (1959), de Hawks.
Com técnicas novas e recriadas, esses diretores aperfeiçoaram as estratégias narrativas tradicionais de Hollywood. Os autores citam Tubarão, de Spielberg, que utiliza técnicas de foco profundo assim como Cidadão Kane (1941), de Orson Welles. Já Lucas tornou-se líder na tecnologia de efeitos especiais com sua empresa Industrial Light and Magic (ILM), após desenvolver técnicas de controle de movimento para filmar as miniaturas em Guerra nas Estrelas.
A tradição europeia também não era esquecida, principalmente por diretores como Scorsese e Coppola. O cinema moderno europeu, como a nouvelle vague e o neorrealismo italiano, teve impacto nas produções desses diretores. Experimentos com a construção da narrativa foram realizados por diretores independentes, e diretores mais novos tiveram a oportunidade de enriquecer as convenções de gênero, narrativa e estilo das grandes produções comerciais de Hollywood.
Referências
Livros: A arte do cinema: uma introdução, de David Bordwell e Kristin Thompson
Filmes: Sem destino (1969), dirigido por Dennis Hopper M.A.S.H. (1970), dirigido por Robert Altman Bonnie e Clyde (1967), dirigido por Arthur Penn A Primeira Noite de Um Homem (1967), dirigido por Mike Nichols O Poderoso Chefão (1972), dirigido por Francis Ford Coppola Tubarão (1975), dirigido por Steven Spielberg O Exorcista (1973), dirigido por William Friedkin Guerra nas Estrelas (1977), dirigido por George Lucas Taxi Driver (1976), dirigido por Martin Scorsese Vestida Para Matar (1980), dirigido por Brian De Palma Psicose (1960), dirigido por Alfred Hitchcock Assalto à 13 DP (1976), dirigido por John Carpenter Onde Começa o Inferno (1959), dirigido por Howard Hawks Cidadão Kane (1941), dirigido por Orson Welles