É essencial que um artista que busca uma unidade visual em sua obra esteja atento a organização de seus elementos no espaço. Isso vale para qualquer manifestação artística que tenha o olhar como experiência: pintura, desenho, gravura, escultura, fotografia, cinema…
Para Otto G. Ocvirk, esse processo de organização é uma mistura de intuição com intelecto, e cabe ao artista conduzir a experiência do observador, tal qual uma partitura guia os músicos: “*assim como a partitura indica o tempo (a velocidade ou ritmo da música), a posição das notas, pausas e o grau do som a ser produzido, a composição visual controla os movimentos dos olhos na velocidade e na direção, fornece pausas e até manipula o volume (ao utilizar cores berrantes ou suaves, linhas em conflito ou figuras sutilmente relacionadas entre si)”*.
Nessa primeira parte, trataremos da harmonia, da variação e do equilíbrio, sempre pautados pelos estudos de Otto G. Ocvirk (e outros autores) publicados em Fundamentos de Arte: Teoria e Prática.
Harmonia
A harmonia é quem estabelece uma coesão em uma obra formada por diferentes partes. Mesmo em áreas díspares da composição, é possível notar características comuns que dizem respeito a toda a obra - como cores e texturas semelhantes.
A repetição é um dos principais meios para criar harmonia. Ela pode acontecer em duplicações exatas de elementos ou repetições com pequenas variações - o que pode fazer com que a imagem se torne menos cansativa. Essas repetições dão ritmo a composição. Elas adicionam uma sensação de movimento quando estrategicamente articuladas e são capazes de guiar o movimento do olho do espectador pela obra.
A repetição também confere à obra um padrão - um molde, uma matriz para uma imitação que pode ser repetida inúmeras vezes. Quando essa repetição acontece temos a origem de um motivo. Esse motivo, se reiterado, origina um padrão geral. Ocvirk exemplifica com um papel de parede: “o motivo é o menor desenho que se repete em um papel de parede, enquanto o padrão geral é o maior desenho que pode ser visto ao se observar a parede inteira”.
Nas 100 latas de sopa de Andy Warhol abaixo o motivo é uma lata de sopa isolada, enquanto o padrão geral é toda a tela. Essa repetição resulta em uma composição com harmonia que produz efeitos geométricos.
Variação
Do outro lado da balança, em oposição à harmonia, está a variação. É ela a responsável pelo contraste visual na composição - destacando elementos e imagens -, fazendo com que não tenhamos uma harmonia em excesso e evitando uma obra estática, sem emoção e vida pelo excesso de repetições.
O principal elemento da variação é, então, o contraste. É ele que, em uma mesma área, combina elementos com características opostas. Ele é capaz, também, de realçar determinadas áreas da imagem, tornando-a dominante na composição.
“Intensificados os contrastes, as áreas envolvidas se tornam menos harmoniosas, porém mais entusiasmantes” (OCVIRK)
Outra técnica de variação apontada pelo autor é a elaboração. Se determinada área parece pobre em elementos visuais, é possível adicionar informações sutis, detalhes minuciosos. Ocvirk define essa elaboração como um aprimoramento ou embelezamento dos objetos já presentes na obra.
E apesar de terem sido apresentadas separadas, por um intuito didático, a harmonia e a variação existem em conjunto. Suas forças são inversamente proporcionais. Então, ao aprimorar o interesse visual, há uma redução na harmonia. Assim como, se reduzirmos o contraste entre diferentes áreas da composição, o resultado será uma maior sensação de harmonia.
Entre a obra de Warhol (acima) e a Superfície Ondulada de Escher (abaixo), você consegue identificar qual é a mais harmoniosa e qual apresenta mais elementos de contraste e elaboração?
Equilíbrio
Conforme apontado, é necessário um equilíbrio do artista na hora de escolher pela harmonia ou pela variação em cada área da imagem. Esse equilíbrio refere-se à distribuição de pesos e forças dentro da composição.
O posicionamento, o tamanho, a proporção e a direção dos elementos são apenas alguns dos fatores que influenciam no equilíbrio em uma composição visual. De acordo com a articulação desses elementos, ao olhar uma composição, nos demoramos mais em determinadas áreas que são pontos de interesse. Isso é causado pela variação, vista anteriormente, que cria momentos de força na imagem.
O artista que busca uma composição equilibrada deve saber reconhecer esses momentos de força para que eles sejam capazes de contribuir com o equilíbrio geral da obra, e não sejam um fator de desequilíbrio.
Segundo Ocvirk, podemos segmentar o equilíbrio em quatro diferentes distribuições:
- Equilíbrio simétrico (formal): “quando as unidades visuais são exatamente as mesmas nos dois lados, obtém-se uma simetria pura”;
- Equilíbrio simétrico aproximado: “o equilíbrio ainda é o objetivo, e a solução é semelhante, mas os componentes artísticos são diferentes em vez de idênticos”;
- Equilíbrio radial: “as forças visuais são distribuídas em torno de um ponto central e irradiam a partir dele”;
- Equilíbrio assimétrico (informal/oculto): “não envolve qualquer grau de simetria, mas o equilíbrio de forças horizontais, verticais e diagonais em todas as direções”.
Na próxima semana, abordaremos a proporção, a dominância, o movimento e a economia. Nos acompanhe no Facebook e Instagram para não perder nossos posts.
Referências
Imagens: 100 latas (1962), de Andy Warhol Superfície Ondulada (1950), de M. C. Escher
Livros: Fundamentos de Arte: Teoria e Prática, de Otto G. Ocvirk, Robert E. Stinson, Philip R. Wigg, Robert O. Bone e David L. Cayton.