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Áudio e Vídeo Cinema

Os truques de câmera em "O Senhor dos Anéis"

Confira como Peter Jackson e sua equipe utilizaram técnicas de perspectiva e maquetes na produção de "O Senhor dos Anéis".

há 2 anos 11 meses

Neste ano, o primeiro filme da trilogia do Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel - completa 20 anos, e para comemorar a ocasião preparamos algumas curiosidades sobre os truques de câmera que a produção do filme usou para dar vida à Terra Média e seus personagens.

Se você conhece o universo criado por J.R.R. Tolkien, sabe que além de grandiosas paisagens super detalhadas, os personagens da narrativa são de diferentes tamanhos e formatos. O desafio foi que em grande parte do filme existia uma constante interação entre humanos e hobbits - que devem parecer bem menores.

Já cientes desse desafio, ainda na pré-produção do filme, Peter Jackson e seu diretor de fotografia Andrew Lesnie se reuniram para experimentar diferentes angulações e iluminações capazes de convencer o espectador de que aqueles personagens eram realmente menores que os humanos, mas que também fossem de rápida execução.


Perspectiva forçada

Nessa técnica que já era explorada pela fotografia muito antes do cinema, se você tem duas pessoas em cena e quer fazer uma delas parecer menor, basta afastá-la da câmera. O problema dessa técnica é que ela se limita à câmera parada, podendo no máximo suportar poucos movimentos panorâmicos e de inclinação.

E por mais que a técnica pareça simples, ela envolve um cálculo preciso a respeito da distância dos atores da câmera. Afinal, se algum deles estiver muito longe, vai parecer muito menor do que deveria.

Uma vez que um hobbit tem uma altura entre 60 centímetros e 1,20 metro, os atores que interpretavam os hobbits precisavam estar um terço mais longe da câmera do que quem interpretava um humano. Logo, em uma cena em que Frodo e Gandalf estão lado a lado, Frodo era sempre colocado um terço mais distante da câmera para parecer menor.

Além dessa perspectiva entre os atores, para o trabalho em escala funcionar, o espectador precisaria ter uma referência de algo que está em cena mas que tenha seu tamanho distorcido. A partir dessa referência, então, teríamos também a nossa percepção de todo o ambiente distorcida.

O Bolsão, que é a casa de Bilbo, por exemplo, foi construída em dois tamanhos diferentes: uma pequena, para que Gandalf parecesse grande quando estivesse dentro dela, e outra grande, para que Bilbo e Frodo ficassem pequenos naquele espaço. E não foi só a casa que precisou ser construída em duas escalas. Toda a cenografia do espaço foi feita duplicada e posicionada exatamente no mesmo lugar: livros, pergaminhos, objetos…

A carroça de Gandalf também foi construída em dois tamanhos diferentes, nela também foi aplicada a perspectiva forçada. Metade do banco - onde Gandalf se sentava - estava mais próximo da câmera e a outra metade mais distante - para Frodo ficar menor em cena -, mas por conta do posicionamento da câmera, essa divisão entre os bancos é disfarçada.


Miniaturas

A produção sempre teve em mente que tudo que pudesse fugir do digital e ser realizado manualmente, assim seria feito. Assim, grande parte dos cenários do longa eram compostos por maquetes. E a regra básica do uso das maquetes é: quanto maior a miniatura, mais real será. Já que assim ela será mais detalhada e a luz também vai se comportar de maneira parecida com a do set com os atores.

Valfenda, por exemplo, foi construída em escala de 1/24 inspirada nos desenhos de Alan Lee. E como os takes da miniatura se fundiriam a outros planos dos atores, a fotografia precisou estar atenta a todos os detalhes de iluminação da miniatura e dos atores. Sem falar na sincronia dos movimentos de câmera em ambas as cenas, que precisavam ser elaborados para se encaixarem na pós-produção.

Lothlórien, o lar dos elfos que fica no topo das árvores, foi ainda mais desafiador. Foram construídas oito árvores de oito metros de altura e um metro e meio de diâmetro cada, que sustentavam as casas montadas no topo, com passarelas entre elas. As casas foram construídas como referência a flores abertas e gavinhas, também inspiradas nos desenhos de Alan Lee.

Na iluminação, além das luzes do estúdio, a equipe de fotografia utilizou luzinhas de natal para formar pequenos pontos de luz ao longo da maquete, já que o ambiente precisava de sua própria luz diegética. Além disso, a produção utilizou também muita fumaça no set para criar uma atmosfera etérea desse ambiente misterioso.

A mesma maquete era filmada até três vezes para um mesmo plano do filme. Ao filmá-la por diferentes ângulos e mesclar as imagens na pós-produção, a imagem ganhava profundidade, e as oito árvores se transformavam em uma floresta completa.


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Autor(a) do artigo

Rafael Alessandro
Rafael Alessandro

Professor, coordenador e produtor de conteúdo no AvMakers. Rafael Alessandro é formado em Comunicação, graduando em Cinema e Audiovisual e mestrando em Cinema e Artes do Vídeo pela Faculdade de Artes do Paraná.

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