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Cinema

Você conhece a regra dos 180º?

há 5 anos 5 meses

Está difícil de posicionar as câmeras no set do filme? As imagens estão invertendo? Aprenda como evitar isso.

Roteiro na mão, set bem iluminado, atores aquecidos e com todas as falas em ordem, além de um equipamento de primeira qualidade. Você grava suas cenas pensando em qual vai ser o seu discurso quando ganhar a estatueta Oscar. Mas é quando você vai para o escurinho da sala de edição que você percebe: você quebrou a mais sagrada regra da gravação: a regra dos 180°.

Eu acho que todo filmmaker já passou por isso pelo menos uma vez na vida e sabe o quão decepcionante é ter que pegar toda equipe novamente e regravar tudo — sem contar com os custos e o atraso que isso gera.

Nesse vídeo da galera do canal Acabou de Acabar eles dão uma boa ideia do que é a regra e de como ela pode te ajudar na hora da gravação.

Afinal de contas, o que é a regra dos 180º?

Imagine uma linha que divide o seu set de filmagem em duas partes iguais. Suas personagens estão uma de frente para outra justamente em cima dessa linha. A regra diz que para que não haja inversão na ordem de posicionamento das personagens na tela, isso é, o que está à direta aparece à esquerda e vice-versa, você somente pode posicionar sua câmera em um semi-círculo de 180° dentro de uma das metades do seu set.

É a partir dessa regra que o seu espectador vai se referenciar espacialmente dentro dos vários planos que podem ser feitos dentro set, uma vez que ele sabe onde cada um deles está. “X está sempre à minha direita, Y está sempre à minha esquerda”.

Pense dentro dos 180°

Por mais intuitiva e simples que a regra pareça, ela é uma das que é mais facilmente quebrada dentro do audiovisual e uma das que mais gera dores de cabeça numa eventual pós-produção para corrigir o erro ou mesmo pelo esforço de ter de regravar todo o material.

Assim, tomando como exemplo a situação que descrevemos acima, vamos supor que você está gravando duas personagens, uma de frente para a outra e você escolhe captar a cena pelo lado esquerdo do set, com a personagem X aparecendo à direita e com a personagem Y à esquerda. Tenha sempre em mente que em todos os planos que fizer dentro daquela configuração de set, X tem que aparecer à direita e Y à esquerda. Novamente: parece simples, mas é algo que pode ser quebrado com muita facilidade.

Como fazer para não quebrar a regra?

Planejamento de cena

Como sempre, planejamento é tudo. Confira seu espaço, imagine e desenhe os planos da sua cena com antecedência. Faça storyboards que mostrem onde fica cada personagem e cada câmera. Isso evita muitos problemas.

Um teste com um barbante

Eu considero esse um dos testes mais divertidos a se fazer para saber onde está a sua linha dos 180º graus. Posicione as suas personagens onde elas serão gravadas e peça para que segurem uma linha ou barbante entre eles. Depois, amarre um terceiro barbante no meio do barbante que eles estão segurando e também conecte-o à sua câmera. Os 180° da regra vão de onde o barbante da câmera toca uma das personagens até a outra, sem nunca ultrapassá-las. Créditos da imagem: The Film Look.

Marcação com Fitas

Você pode usar fitas no chão para lembrar que você não pode ultrapassar esse ou aquele ponto. Ou ainda usar as mesmas fitas para ter uma ideia da direção que as personagens deverão olhar e assim estabelecer a linha a partir delas, e também para lembrar de não cruzar essa linha por trás da personagem, colando uma mesma indicação com fita na câmera.

Toda regra tem sua exceção

Claro que, como diretor do seu próprio filme, você pode escolher se quebra ou não a regra dos 180° como um recurso estético ou narrativo. Há filmes que brincam com isso como O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick, para criar uma certa narrativa — no caso para mostrar a loucura de Jack Torrance. Lembre-se que, num primeiro momento, essa quebra causa confusão no público, que pode não entender de primeira a ideia que você quer passar, então, nesse caso o planejamento ainda é uma mão na roda. Vale sempre pensar: se é um recurso estético, vá em frente. Se não é, é melhor ficar atrás da linha.

Autor(a) do artigo

João Leite
João Leite

Escritor e redator, formado em Rádio e Televisão pelo Complexo FIAM-FAAM, apaixonado por literatura e observador míope do espaço sideral.

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